SOBRE MAFALDA

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Pra começar a esquentar os motores desse meu canto abandonado na internet, vou colar abaixo algumas informações sobre alguém, um personagem de vida e opinião própria que tem me inspirado muitas vezes, até porque me identifico muito com ela: MAFALDA!

MAFALDA - A ANTI-MENINA DOS OLHOS
ahh! site muito bom por sinal, visitem !!!
Tempos de exceção propiciam o aparecimento de arranjos sociais e criações artísticas ímpares. A década de 1960 parece ter sido a época que mais materializou essa máxima. A contracultura na América do Norte deu um salto por sobre os muros do conformismo e da tradição. Em pouco tempo vimos surgir o sexo livre, o movimento hippie, a literatura beat, o consumo de drogas para a expansão da consciência, as lutas pelos direitos civis, etc. As margens começaram a dar uma expressão artística e social para os anseios de liberdade e criatividade. Personas marcantes surgiram nessa época, como Jimi Hendrix, Allen Ginsberg, Malcom X, Martin Luther King.

Na América do Sul, grassava o espírito das ditaduras e o desejo facistoíde de engendrar povos “fortes” e livres da “ameaça” comunista. Mas a alma libertária também tinha seus espaços. O suficiente para que em 29 de setembro de 1964, surgisse na argentina uma menininha que encantaria o mundo e permaneceria até hoje como símblo de contestação e liberdade. Seu nome? Mafalda, uma garota de seis anos, que surge para colocar o mundo de ponta-cabeça. Ela aparece para desconstruir as visões conservadoras sobre a política, moral, econômica, cultural. O “pai” da menina é o quadrinista argentino Joaquín Salvador Lavado, popularmente comhecido como Quino.

Pelo fato de ser uma menina, e não um menino, Mafalda já começa subvertendo as lógicas do quadrinho e da vida, dando espaço para questões de gênero. Se antes as mulheres eram vistas como coadjuvantes, Mafalda torna explícito o contrário. Ela se transforma num vetor para as idéias que iam emergindo na turbulenta década de 1960 – o feminismo, as questões do chamado “Terceiro Mundo”, os direitos das crianças. Seus questionamentos, suas angústias, pareciam antecipar as problemáticas surgidas com o terror que seria instaurado na argentina dos militares.

Mafalda odeia a injustiça, a guerra, as armas nucleares, o racismo, as absurdas convenções dos adultos e, obviamente, a sopa, como mostram algumas de suas tiras. Seus amores também ilustram o espírito da época: os direitos humanos, a democracia e os Beatles. Ela é uma menina que recoloca questões crucias, numa linguagem radical, de tão simples e aparentemente ingênua; é uma criança que se espanta diante do mundo, não aceita as “normalidades e obviedades” da realidade cotidiana.

Seus comentários são sempre ácidos e vão de encontro aos ideais da sociedade de consumo. Quino consegue criar em suas tiras perguntas de um fôlego inédito, um frescor para o humor político e engajado. Através de seu alter-ego Mafalda, ele faz comentários entrecortados de ironia, acidez e sutileza.

A presença de espírito da pequena menina argentina foi reconhecida por ilustres acadêmicos, como o semiólogo italiano Umberto Eco, que chegou a afirmar que ela é uma “heroína iracunda que rejeita o mundo assim como ele é, reivindicando o seu direito de continuar sendo uma menina que não quer se responsabilizar por um universo adulterado pelos pais”.

O universo de Mafalda não é só atormentado por seu mundo familiar. As questões do mundo lhe dizem respeito, são tratadas diretamente. A América Latina, o problema da auto-afirmação dos povos, as crises econômicas, as questões do mercado de trabalho, tudo interessa a Mafalda, tudo lhe atinge e a confronta. Com poucas palavras, em quadros ágeis, Quino consegue falar do autoritarismo paterno e materno e dos problemas ecológicos.

Quino, diferente de outros desenhistas, sempre fez questão de dominar todo o processo de feitura de suas tiras. E foi assim durante todo o tempo em que Mafalda foi publicada. O sucesso de Mafalda foi enorme. Ela dava uma expressão bem-humorada para os problemas que assombravam o mundo. Logo foi traduzida em várias línguas, tendo grande repercussão em países como Inglaterra, Alemanha e Itália. O rosto da “pequena iracunda” se tornou um dos mais populares do universo das HQs.

A menininha “cresceu”. Mas em 25 de junho de 1973, quase nove anos após seu nascimento, Mafalda deu adeus ao mundo. A explicação de Quino para o fim da publicação das tiras foi a de que ele não queria se repetir e que o personagem já havia realizado sua missão, esgotado suas possibilidades. Dali por diante seria necessário dar lugar a outras experiências. Quino continuou produzindo obras de muita qualidade. A menininha já havia conquistado seu espaço na história do conturbado século XX, donde saiu dando língua e sacudindo a cabeça, perturbando o planeta como sempre soube fazer.



 

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