Saindo do formo, um conto inusitado e (ainda) amador!

By Nah


Nossa história começa em um lugar aparentemente comum, a floresta onde vivia Chapeuzinho Vermelho e o Lobo mal.
Porém, meus amigos, essa floresta, não era assim tão normal e as coisas não aconteciam da forma como acontecem nas florestas pelo mundo afora: os animais falavam, alguns eram fluentes em diversas línguas, os grilos tocavam viola, as formigas trabalhavam diariamente, a cigarra cantava o dia todo, os pássaros eram vigias aéreos da floresta, os cisnes namoravam no lago onde os sapinhos aprendiam a cantar em coro. Lá moravam também ursos, que cuidavam de fazer a ronda escolar das crianças e as cobras que cuidavam das fronteiras e da alfândega, cobrando impostos daqueles que queriam levar alguma fruta da floresta pra outro lugar. O senhor coelho era o padre da comunidade da floresta, e celebrava suas missas na Capela da Santa Primavera. Existiam também, é claro, alguns humanos, lenhadores, menininhas, mamães e vovozinhas, além dos temidos lobos.
Crispim era um desses lobos. Ele era um lobo grande e peludo, botava medo, pois já tinha feito muitas maldades pela região: assustava as crianças, puxava o rabo do macaco Zezé, comia o lanche das pobres coelhinhas saltitantes.
Ele era mesmo muito malvado. Crispim, o malvado do pedaço, estava deixando essa vida bandida de lado porque havia encontrado uma garota por quem estava apaixonado, era uma linda Loba de pelos claros e nariz rosado, que tinha um rostinho angelical, mas era brava como uma onça.
Crispim colhia flores para ela, desenhava com as unhas um coração e as inicias de seus nomes em várias árvores da floresta, escrevia poemas sobre a noite em que se conheceram, e ela, apesar de tentar não demonstrar, também estava claramente apaixonada por ele, e até havia lhe dado uma bitoca no caminho das flores que levam até a capela, num domingo de manhã.
Aconteceu que um dia, em um de seus passeios diários, Crispim estava tão feliz, mas tão feliz que nem se lembrou da sua fama de mal quando avistou a menininha mais chatinha da floresta, a tal da Chapeuzinho vermelho, andando com uma enorme cesta nas mãos e foi logo puxando assunto, querendo muito compartilhar com alguém sua felicidade. Chegou perto da menina e perguntou o que ela levava na cesta e para quem era tudo aquilo. A menina respondeu que eram doces, tortas em formatos de coração, bolinhos de chocolate, mas que eram apenas para sua avó, não para lobos fedorentos como ele. Mal deu tempo de Crispim expor a idéia de pegar um doce emprestado, e a menina já deixara claro de que não dividiria com ninguém.
O Lobo ficou chateado com a atitude de egoísmo da menina, pois não teria doce algum para levar de presente para sua amada lobinha do nariz rosado. Pensou em um plano e decidiu apelar pra vovozinha, afinal, ela com certeza já havia se apaixonado por alguém e entenderia a necessidade de um amante á moda antiga.
Sem perder tempo, correu para a casa da Avó da menina, bateu na porta e logo explicou a situação. A vovozinha não pode acreditar que sua netinha Chapeuzinho havia tido uma atitude tão mesquinha, pois havia educado a menina para que ela sempre compartilhasse as coisas com quem precisasse. Então a vovó propôs ao lobo pregar uma peça na menina, para que ela jamais fizesse isso outra vez.
A vovó se escondeu dentro do armário depois de vestir o lobo com seu pijama, deitá-lo em sua cama de madeira e cobrí-lo com o lençol de bolinhas amarelas e azuis, e ficou a esperar a menina chegar.
Como todos sabem, quando Chapeuzinho chegou e começou a conversar com o lobo disfarçado de avó levou um susto e tanto, e o susto foi enorme, com seus gritos desesperados apareceram vários caçadores para salvar Chapeuzinho do lobo apaixonado para o qual ela negou uma torta de morango em formato de coração. O caçador chamou a guarda da floresta, mas a Avó da menina esclareceu tudo e o lobo foi convidado gentilmente a permanecer longe dos humanos que habitavam a floresta, pelo menos até a poeira baixar e a população esquecer-se do incidente.
Logo a fofoca chegou a senhorita Blanca, a loba do nariz rosado, que nervosa ser saber o que fazer, estava dando murros nos cachos de banana, quando viu Crispim chegando de cabeça baixa para lhe contar sobre a confusão:
- Então, meu amor, eu me deitei na cama da vovó, me vesti com seu pijama pra fingir que não era lobo e assustar a Chapeuzinho, mas ela fez um escândalo e chamou toda a guarda da floresta ...
- O quê? Você estava na cama de uma mulher? Vestido com um pijama de vovozinha? Ora Crispim, você me envergonha! Estão rindo de mim, afinal, um lobo mal que se veste de vovó não serve para ser um chefe de familia! Como vcoê vai aparecer nas histórias infantis? De pijama? Com toquinha na cabeça?! Ahhh! Que vergonha!
O lobo, tentou explicar o porquê da confusão e mostrar que tudo isso aconteceu apenas porque ele queria muito aquela torta para dar de presente para ela. Nada adiantou. Blanca gritou ferozmente e em frente toda a comunidade da floresta que não queria vê-lo nunca mais.
Durante noites, isolado a beira do lago, escrevendo poemas tristes, Crispin o lobo mal apaixonado resolveu viajar e sumir da floresta. Atravessou o rio, se afundou nas ruas da pequena cidade vizinha, pegou um trem, foi para a capital, de lá pegou um avião e voou para o Tibet.
No Tibet meditou em templos budistas, adotou a dieta vegetariana, fez votos de humildade e pobreza, e lá ficou por muitos anos ... Até que um dia dormiu, olhando as fotos de seu antigo amor e decidiu voltar a floresta.
De volta a vida na floresta, encontrou alguns dos poucos amigos que tinha, conversou e contou suas experiências no oriente, mas no final do dia encontrou quem realmente procurava, sua loba de nariz rosado.

Blanca já tinha muitos lobinhos e lobinhas com um lobo forte chamado Oscar, muito muito mal, e tudo que havia de mal nele e todas as maldades que ele fazia ela se orgulhava.
Crispim, no fundo jamais seria um lobo tão mal assim, jamais ensinaria tamanha crueldade a seus lobinhos e lobinhas, mas aprendeu a viver sozinho na floresta, escrevendo estórias para crianças de todo o mundo.

Em suas estórias, Crispim, o lobo mal apaixonado, escreve sobre a natureza e como é bom viver em meio a tantos animais diferentes. Escreve sobre o amor, sobre a vida ao seu redor, escreve para crianças e escreve para adultos.

Chegamos ao fim da história e eu aposto que você não sabia o que aconteceu com o lobo mal depois da confusão na casa da Vovó da Chapeuzinho, não é?

Pois é, lobo mal também ama! E ama de verdade ...

 

0 comments so far.

Something to say?